Fotoativa em Residência com Rafael Segatto
outubro a dezembro de 2017
Rafael Segatto realizou sua residência entre outubro e dezembro de 2017, estendendo-se pela região até fins de janeiro de 2018. Durante seu percurso, desenvolveu uma pesquisa atravessada pela questão do deslocamento e da permanência, e de suas memórias afetivas. Para ele, o reconhecimento de um outro/novo lugar demanda um olhar atencioso. Um olhar que envolve escuta, odores, gostos e ritmos. Nesta compreensão, a fotografia é esse olhar expandido. Uma observação que vai além da própria construção da imagem e se configura nos espaços, nas trocas possíveis ao percorrer um determinado território.
Para concluir seu ciclo, propôs um jantar-experiência intitulado Formas de voltar pra casa, oferecendo aos convivas os sabores de uma moqueca capixaba regada pelos estranhamentos das águas do norte e do calor da cidade.
formas de voltar pra casa
O reconhecimento de um outro/novo lugar demanda um olhar atencioso. Um olhar que envolva escuta, odores, gostos e ritmos. Para mim, a fotografia é esse olhar expandido. Uma observação que vai além da própria construção da imagem e se configura nos espaços, nas trocas possíveis ao percorrer um determinado território.
Belém é agora o meu território possível, onde discuto sobre questões de deslocamento e permanência, e me deparo com minhas memórias afetivas. Me aproximo da cidade a partir do estranhamento que ela me causa. Venho do litoral do Espírito Santo, onde as marés têm um ritmo distinto, a densidade da água é outra e o cheiro também. Onde a culinária, também influenciada por indígenas, se constitui de outro modo. O gosto do peixe de água salgada é diferente do peixe de água doce. O peixe cozido é moqueca e não caldeirada. Vir a Belém, ser atravessado por ela, me leva à Bahia de minha infância, quando meu pai preparava a moqueca capixaba, nossa particularidade regional. Me leva aos dias de pesca, na boca da barra do Jucuruçu ou nos arrefices em alto mar. Pelas minhas andanças não me interessa afirmar de onde venho, mas é essa tensão entre a minha própria história e a que construo agora, são todas essas divergências, que me integram as geografias e propiciam a produção dos meus afetos. Preparar uma moqueca capixaba, então, tem a ver com essas questões que levanto aqui, com os estranhamentos das águas do norte, do calor da cidade e, ao mesmo tempo, com a acolhida repentina que venho recebendo desde o dia em que cheguei neste lugar.
Rafael Segatto
Para o artista, caminhante é a possibilidade de ser estrangeiro e estar em movimento, reconhecendo na diferença a oportunidade de tecer relações e estabelecer trocas. Seus trabalhos partem da imagem-documento para refletir sobre estruturas de poder na sociedade a partir da relação entre memória afetiva e identidade social. Segatto busca fazer uma síntese entre pesquisas teóricas e conhecimento vernacular para materializar suas imagens em instalações fotográficas, centradas na conciliação entre matéria e espírito como meio de indagar sobre a existência humana.
Em 2018, desenvolve o projeto caminhos possíveis, com pesquisa de imersão realizada no Pará durante residência artística na Associação Fotoativa e contemplada pelo Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo na categoria Exposições de Artes Visuais para artistas iniciantes da Galeria Homero Massena.